"Às 2:00 da madrugada daquela segunda-feira a espera ansiosa pela entrada
do trabalho de parto começa a tomar forma, sendo esta data, 04/04/2016, a
prevista para o nascimento da Lippia. Sabia-se que finalmente havia chegado a
hora de conhecer minha pequena. Como mãe de primeira viagem, ansiosa pelos
acontecimentos que estavam por vir, logo acordei meu companheiro Lucas para
contarmos os intervalos das contrações, pois sabíamos que intervalos de
aproximadamente 5 em 5 minutos era hora de ir ao hospital. Havia um turbilhão
de sentimentos dentro de mim, uma mistura de adrenalina, ansiedade, felicidade,
medo e dor, o que talvez me fez já sentir as primeiras contrações em intervalos
de 5 em 5 minutos e logo acionamos a doula Jaqueline e corremos para a
maternidade.
As dores estavam moderadas de certa forma, mas o cansaço de noites
anteriores mal dormidas e com a ansiedade dos últimos dias que me deixou sem
apetite, penso que me causaram um desconforto maior, me prejudicando mais ainda
no decorrer do processo de trabalho de parto. A espera pelo atendimento na
recepção me atormentava, pensava que meu bebê pudesse nascer a qualquer
momento, mal sabia eu que esse é um processo longo e sofrido, mais do que minha
própria imaginação era capaz de saber.
No primeiro atendimento médico descobri que estava apenas com 1 cm de
dilatação, seria uma longa jornada até os 10 cm tão necessários para o parto
natural, então ainda sorrindo, andando e falando normalmente tive que dar
caminhadas, voltar para a casa fazer exercícios, tomar ducha de água quente,
dançar e exteriorizar todos os medos e angustias que tive naquele momento tão delicado e intenso da minha vida, tudo isso guiado
pela doula, que conseguiu me dar força e segurança para que eu realizasse tudo
na maior normalidade. Então, no final daquela linda tarde de abril, voltamos
para a maternidade Carmela Dutra – eu, minha família e minha doula, que me acompanharam e me deram força durante todo o processo.
Feliz por finalmente ter conseguido chegar nos 5 cm de dilatação, o
necessário para o internamento, entrei na sala de pré-parto. Me sentindo mais
segura fui apresentada à médica de plantão, que carinhosamente me explicou o
processo de funcionamento das salas de pré-parto, parto e pós-parto e aceitou
nosso plano de parto, no qual solicitamos o mínimo de intervenção possível,
entre outras coisas, como som e iluminação que nós trouxemos para hora do
nascimento da nossa pequena Lippia. Então, assim que nos acomodamos (eu, meu
companheiro Lucas e a doula Jaque), começamos a bateria de exercícios, com bola
de pilates, cavalinho, caminhadas no pequeno jardim interno, agachamento e
danças. Só parava para ser monitorada pela equipe médica e logo recomeçava o
ciclo de exercícios. O auxílio e a
companhia dessas duas pessoas foram de suma importância para me dar força,
segurança, aliviar minhas dores e me mostrar que não estava sozinha nessa hora.
A cada contração eu recebia uma espécie
de massagem do Lucas, que apertando meus quadris aliviava a pressão causada
pelas contrações; de tempos em tempos, Jaque me fazia massagem com óleos naturais
para me relaxar e assim íamos nos harmonizando e adentrando no profundo mundo da partolândia. Estávamos todos tão concentrados e sincronizados que meus gritos de exteriorização
da dor se tornaram uma espécie de mantra que pedia para que a Lippia chegasse
ao mundo, cantado por nós três. Porém, as dores foram aumentando de intensidade
e o processo ficando mais sofrido e cada vez que algum profissional entrava
para medir os intervalos das minha contrações, estas se mostravam totalmente
desreguladas, hora de 5 em 5 min, hora de 7 em 7 min, hora de 3 em 3 min, como
se a entrada de um estranho quebrasse a harmonia que havíamos criado naquele
ambiente e me causasse um desequilíbrio hormonal, mesmo eu tendo a total consciência
da importância de fazer tal procedimento.
Com as
dores se intensificando cada vez mais, meus gritos contagiavam o ambiente e incentivavam
as outras parturientes a exteriorizar a dor, até mesmo sincronizando nossas
contrações. Contudo tive o pequeno azar de pegar um compartimento bem em frente
ao ar condicionado e apesar de ser um dia quente, atípico de outono, minha
sensibilidade à flor da pele me deixava com muito frio e já com aproximadamente
10 horas de internação me sentia muito fraca, sem forças, já não conseguia mais
ficar de pé. As dores nas pernas eram muito fortes e tive que me render a solicitar
analgesia. A médica de plantão disse que o anestesista não estava disponível e
não seria possível me dar uma peridural, apenas havia a possibilidade de um
outro anestésico intravenoso, mas que teria um pequeno risco de depressão
respiratória no bebê. Respirando fundo
neguei esta alternativa. Tomei fôlego, pedi um copo de gelatina pra me dar
força, tomei mais uma ducha e pensei: é assim que vai ser então, vou ter que me restabelecer para poder ter forças para aguentar essa batalha até o final.
O desenvolvimento do meu trabalho de parto estava se desenrolando muito
lentamente e apesar de os profissionais estarem sempre atentos medindo meus
sinais vitais e os da bebê, nos comunicaram que estava correndo tudo
normalmente. Para acelerar o processo poderia ser feito alguns procedimentos
como perfurar a bolsa, que ainda não havia estourado, e/ou utilizar ocitocina
sintética. Então optamos em perfurar a bolsa, o que foi um procedimento um
pouco invasivo e doloroso, mas realmente ajudou a acelerar o trabalho de parto.
Finalmente consegui chegar nos tão esperados 10 cm de dilatação e as contrações
mudaram seu formato, já não sentia dores nos quadris e nas pernas , sentia uma
pressão de empuxo e uma vontade inconsciente
de fazer força. Foi então que corremos para a sala de parto, me instalei na
mesa de parto, sentada para ter o bebê de cócoras como havia solicitado no
plano e preparamos o ambiente. Acontece que devido a minha exaustão e/ou a
troca de ambiente, não sei dizer ao certo porquê, minhas contrações haviam dessincronizado
totalmente, ficando fracas e espaçadas. Então fui mudando de posição até me
sentir mais confortável, agachada, de quatro, até me sentarem num banquinho no
chão da sala, com meu companheiro me apoiando nas costas e a doula ao meu lado me dando palavras de força
e incentivo. Finalmente às 4:06 de 05/04/2016 consegui tirar uma força
sobrenatural de dentro de mim para fazer a Lippia vir ao mundo, saudável e sem
ter lacerações graves no períneo, apenas superficiais.
Sentir
minha pequena passando pelo canal, sentir a cabecinha dela emergir de dentro de
mim, sentir o corpinho dela deslizar e vir parar meu colo desabrochando como
uma flor, é uma sensação única e inexplicável, que me fez sentir que tudo isso
valeu a pena."
Juliana, fica aqui expressa minha gratidão à você e ao Lucas por terem me escolhido como doula e me sinto realizada por ter acompanhado o empoderamento de vocês, um forte abraço!